Os filmes do diretor sul-coreano Bong Jong-Ho são aventuras cinematográficas imprevisíveis que magistralmente misturam humor, suspense, mistério e horror. Seu filme mais recente, Parasita, é sem dúvida o seu melhor. E com seis indicações ao Oscar (fazendo história como o primeiro candidato coreano a melhor filme), retornos recorde de bilheteria e uma lista crescente de elogios, Parasita também é um fenômeno cultural global.

O que em Parasita ressoa tão profundamente? Indiscutivelmente, é a descrição corajosa e perturbadora da natureza humana no filme. O título encapsula perfeitamente o enredo - as personagens sugam os outros para sobreviver. No entanto, o parasita que Bong quer revelar não é encontrado apenas em objetos ou lugares estranhos; também está vivo em toda alma humana.

Parasita do Desejo

Todos os filmes de Bong Joon-Ho exploram as tensões sociais presentes não apenas na Coréia do Sul, mas em todo o mundo. Enquanto muitos de seus trabalhos anteriores ocorreram em cenários de ficção científica ou fantásticos (Okja, Snowpiercer), Parasita é um drama mais doméstico, focado em duas famílias (cada uma com quatro membros) vivendo em mundos opostos em Seul. À medida que a empobrecida família Kim de colarinho azul se infiltra lentamente na casa da rica família Park - o filme se transforma em caos humorístico e eventual desastre.

As dificuldades da família Kim - e seus caminhos “parasitas” - são destacadas na cena de abertura do filme, pois os quatro são vistos em um apartamento sujo no porão, inundado com nuvens tóxicas de gás de fumigação vindos da rua. A sorte da família começa a mudar quando um amigo do filho mais velho, Ki-Woo (Woo-sik Choi), dá à família um suseok, uma pedra tradicional coreana. O suseok parece trazer à família a felicidade, a fortuna e a riqueza que há muito desejavam. No entanto, em uma cena crucial, a pedra pesada sobe à superfície de sua casa inundada, revelando que era falsa o tempo todo.

O momento coincide com a elaborada fraude da família Kim - um esquema para alimentar seus desejos de mobilidade ascendente - começando a desmoronar. Mesmo em meio à devastação de perder a casa, há um momento em que Ki-Woo aperta o suseok e diz: “Ele continua se apegando a mim”. A pedra é um símbolo dos desejos parasitas que se prendem às nossas almas.

O filme mostra como nossos desejos são frequentemente mais perigosos quando começam a se tornar realidade. Lentamente, percebemos que os desejos realizados não alimentam a alma. Eles sugam até secá-la. Perto do final do filme, é o suseok, apropriadamente, que derruba Ki-Woo em uma poça sangrenta, ecoando o que Provérbios 27:20 revela da natureza humana:  “Sheol [morte] e Abaddon [destruição] nunca são satisfeitos, e nunca estão satisfeitos os olhos do homem.”

Loucura da Comparação

Desejos parasitas geralmente resultam da comparação - uma realidade que Bong retrata de maneira tangível através de um contraste vívido entre as residências de Kim e Park. A indicação ao Oscar de melhor design de produção é bem merecida; as casas do filme são personagens em si mesmas.

À medida que somos apresentados à família Kim, cada cena se move para baixo para capturar suas dificuldades. Sua moradia no subsolo força a família a sempre olhar para o alto, quase cimentando seu lugar na escada econômica. A residência dos Park, por outro lado, é uma casa grandiosa literalmente em uma colina. Para entrar na residência é preciso subir um lance de escadas. A visão dos Park não é um olhar tenso para cima, para uma rua urbana suja, mas uma visão de lazer para fora - através de enormes janelas de vidro com vista para o espaço verde pastoral.

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A cobiça da família Kim é familiar para nós em parte porque somos diariamente bombardeados com esses contrastes através da postura das mídias sociais que estimulam a comparação. É apropriado que a cena de abertura mostre os irmãos Kim em seus telefones, procurando desesperadamente por um bom sinal. O vício deles na experiência digital - como a nossa - alimenta o apetite insaciável do parasita do desejo.

No entanto, em uma das grandes reviravoltas do filme, Bong nos confronta com a loucura e a destruição da comparação. O jogo de comparação “quem está melhor do que quem” é inútil e cíclico. E se estar no alto da escada significa que outros devem ser chutados para baixo, a subida realmente vale a pena?

Finalmente, está longe de ser óbvio em Parasita que ricos e pobres se correlacionam com graus de felicidade. No final, o que parece ser um forte contraste entre “nós” e “eles” é revelado como limites artificiais. Somos mais parecidos do que diferentes - não em nossa postura externa, mas certamente em nossa situação interior.

Igualdade de Depravação

Uma das maneiras pelas quais Parasita fica sob sua pele é recusando-se a oferecer ao público protagonistas e antagonistas claros. O filme nos confronta com a dura realidade - deixada clara em toda a Bíblia - que todos os seres humanos, mesmo os “heróis”, têm uma profunda propensão ao mal. Como Mike Cosper coloca: “É mais fácil entender que somos pecadores ou santos do que reconhecer que somos uma mistura de ambos”.

A família Kim acredita que o topo da escada oferece uma vida mais honrada e moral. Como Chung-sook (Hye-jin Jang), mãe do clã Kim, observa da família Park, “eles são legais porque são ricos”.  Mas, quando o filme termina, percebemos que nenhuma família conquistou a honra que eles perseguiram. Seja em cima ou em baixo (literalmente no filme, que acentua o motivo do status de cima e de baixo), os parasitas do desejo - querendo mais, melhor ou diferente - ainda estão à espreita, famintos como sempre. Realizações e status, ao que parece, não resolvem o problema central - o parasita central - de nossa natureza pecaminosa. E quanto mais subimos, mais espiralamos para o pecado.

A depravação é universal, como Parasita entende. É uma mensagem sombria, mas que cria a gloriosa esperança do Evangelho. Pois assim como a depravação toca todos os degraus da escada, o mesmo acontece com a salvação oferecida a nós em Cristo. Independentemente do nosso status no sentido mundano, somos igualmente culpados aos olhos de Deus. Nenhuma quantidade de riquezas, casas ou ajuda contratada pode esconder dEle nosso pecado. Mas o outro lado também é verdadeiro: não importa o quão baixo caiamos nas escadas da vida, nunca estaremos fora do alcance da graça salvadora de Deus.

 

Traduzido por Fabricio Luís Lovato a partir de "The ‘Parasite’ in Each of Us" <https://www.thegospelcoalition.org/article/the-parasite-in-each>.

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