Há quem considere um dia mais sagrado que outro; há quem considere iguais todos os dias. Cada um deve estar plenamente convicto em sua própria mente. Aquele que considera um dia como especial, para o Senhor assim o faz. Aquele que come carne, come para o Senhor, pois dá graças a Deus; e aquele que se abstém, para o Senhor se abstém, e dá graças a Deus.

Romanos 14:5-6

O que Paulo quis dizer no texto acima, endereçado aos cristãos de Roma? Muitos citam esses versos como evidência de que os cristãos não estão mais sob a obrigação de guardar o Sábado, conforme ordenado por Deus no quarto mandamento (Êxodo 20:8-11). Argumenta-se que a questão do dia que guardamos (ou não) para Cristo não é de tanta importância; cada um deve estar bem firmado em sua opinião e não julgar quem pensa diferente. Será isso o que o apóstolo realmente quis dizer? 

Não! Iremos analisar dois pontos de vista possíveis sobre o significado do texto de Romanos 14:5-6.

Paulo está se referindo aos dias cerimoniais judaicos, não ao quarto mandamento

“Em harmonia com a analogia das Escrituras, e, particularmente, com o ensino de Paulo, Romanos 14:5 pode ser devidamente considerado como alusivo aos dias santos e cerimoniais da instituição levítica. O dever de observar esses dias é claramente revogado no Novo Testamento. Não possuem mais relevância nem sanção, e a circunstância descrita em Romanos 14:5 concorda perfeitamente com o que Paulo diria a respeito dos escrúpulos religiosos ou da ausência de tais escrúpulos acerca desses dias. Paulo não se mostrou insistente sobre o fato de que não mais há necessidade de serem observados os ritos das ordenanças levíticas, visto que tais observâncias eram apenas um costume religioso e não comprometeriam o evangelho (cf. At. 18:18, 21; 21:20-27). [...] Colocar o dia do Senhor (o Shabbath, ou descanso semanal) em uma mesma categoria não somente ultrapassa os requisitos exegéticos, como também nos põe em conflito com os princípios inseridos em todo o testemunho das Escrituras. Uma interpretação que envolve tal contradição jamais poderá ser adotada. Por conseguinte, não podemos afirmar que Romanos 14:5, de qualquer maneira, anula a santidade permanente de cada sétimo dia, como memorial do descanso de Deus, na Criação, e memorial da exaltação de Cristo, em sua ressurreição.”

(John Murray, Romanos: Comentário Bíblico, p. 671-673)

“A referência aí feita [à palavra ‘dia’] se prende a instituições judaicas, e especialmente a seus festivais, tais como a páscoa, pentecostes, festa dos tabernáculos, lua nova, jubileu etc. Os gentios convertidos ... consideravam ... que todos esses festivais não obrigam o cristão. Nós os tradutores acrescentamos a palavra iguais, e fazemos o texto dizer o que, estou certo, jamais foi pretendido, isto é, que não há distinção de dias, nem mesmo do Sábado.”

(Comentário de Adam Clarke, Romanos 14:5)

“Desta passagem sobre a observância de dias, Alford infelizmente infere que tal linguagem não poderia ser empregada se a lei sabática estivesse em vigor sob o evangelho em qualquer forma. Certamente não poderia, se o sábado fosse meramente um dos dias de festa judaicos; mas o sábado é mais antigo do que o Judaísmo; ... estava emoldurado entre as eternas santidades do Decálogo, pronunciado ... em meio aos terrores do Sinai; e se o próprio Legislador disse dele quando sobre a terra, ‘O Filho do Homem é Senhor até do sábado’ (ver Marcos 2:28) — será duro mostrar que o apóstolo teria querido dizer que devesse ser classificado por seus leitores entre aqueles dias festivais judaicos que se foram, e que só os ‘fracos’ imaginassem que estaria ainda em vigor — uma fraqueza que aqueles com maior luz deviam, por amor, meramente suportar.”

(Jamieson-Fausset-Brown Bible Commentary, Romanos 14:5)

“Dias especiais são comemorados entre os legalistas conservadores (v. 5 e 6). Paulo é surpreendentemente paciente com eles; por isso concluímos que eles eram da cristandade judaica, e não estavam misturados com o paganismo. [...] Como bom judeu, ele era incapaz de condenar a observância do sábado, que não estava misturada com o paganismo, e ele se identifica com os fortes (Romanos 15:1).”

(Comentário Bíblico Broadman, v. 10, p. 310-311)

“E com relação aos dias, ‘um homem estima um dia acima do outro’ - Pensa que as luas novas e as festas judaicas são mais sagradas do que os outros dias e ainda devem ser observadas. ‘Outro estima todos os dias da mesma forma’ - Sustenta que a diferença de dias designada por Moisés já cessou. Os feriados judaicos sendo o único objeto de controvérsia, o que o apóstolo aqui escreveu a respeito deles não pode ser estendido ao sábado, instituído na criação.”

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(Benson Commentary, Romanos 14:5)

“Quando o Messias chegou, a Páscoa, a Festa dos Tabernáculos e outras festas especiais dos judeus, é claro que desapareceram, e é perfeitamente claro que os apóstolos nunca pretenderam inculcar sua observância aos convertidos gentios. [...] O apóstolo não quis dizer que era indiferente se o dia do Senhor deveria ser mantido como santo, ou dedicado a negócios ou diversão.”

(Barnes’ Notes on the Bible, Romanos 14:5)

Paulo está se referindo a dias específicos de jejum, não ao quarto mandamento

O Talmude registra que muitos judeus jejuavam às segundas-feiras e quintas-feiras. Eles também tinham outros dias tradicionais de jejum (compare Zacarias 7:3-5). Visto que alguns dos cristãos judeus em Roma criticavam outros arrogantemente (Romanos 2:17-24), talvez se tivessem tornado como os fariseus que se gabavam por jejuar “duas vezes na semana” (Lucas 18:12), e se estabeleceram como pessoas mais justas que outras que não jejuavam nesses dias. Possivelmente, certos membros da igreja em Roma estavam a tentar impor a outros cristãos o jejum em certos dias, o que incitou Paulo a perguntar severamente: “Quem és tu, que julgas o servo alheio?” (Romanos 14:4)

“A associação contextual rigorosa com comer sugere que Paulo tinha em mente um dia especial reservado para observância de ocasião festiva ou como ocasião para jejum.”

(Everett Harrison, The Expositor’s Bible Commentary, 1976, v. 10, p. 146)

“Como ‘dias’ está aqui apenas brevemente referido em um capítulo cujo assunto principal é carnes, alguns supõem que se deve entender como dias de jejum; nesse caso, o sentido pode ser que alguns considerem um ponto de consciência necessário se abster de alimentos ou de certos tipos de alimentos em determinados dias, enquanto outros não fazem essa distinção entre dias como uma questão essencial.” 

(Pulpit Commentary, Romanos 14:5)

Russel N. Champlin reconhece que não é possível provar que a guarda do sábado esteja sendo questionada nesse texto:

“Não dispomos de meios para julgar, com base neste texto, nem com toda a certeza, se Paulo queria incluir ou não o sábado na lista dos vários dias especiais que os irmãos ‘débeis na fé’ insistiam em observar.”

(O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, v. 3, p. 839)

Finalizamos aqui com as palavras do erudito teólogo Batista A. H. Strong:

“Nem nosso Senhor nem Seus apóstolos ab-rogaram o sábado do Decálogo. A nova dispensação anulou as prescrições mosaicas relativas à maneira de guardar o sábado, mas continua reafirmando sua observância como de origem divina necessária à natureza humana. Nem tudo na lei mosaica foi abolido por Cristo. ... Cristo não cravou na cruz mandamentos do Decálogo.”

(Systhematic Theology, p. 409)

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