Atos dos Apóstolos 20:7 afirma:

E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite.

Atos dos Apóstolos 20:7

Alega-se, a partir desse versículo, que a igreja cristã primitiva reunia-se no Domingo para estudar a Palavra de Deus e celebrar a santa ceia, em substituição ao Sábado do quarto mandamento (Êxodo 20:8-11). Será que o texto realmente afirma isso?

“A passagem não é absolutamente convincente [como prova da guarda do Domingo], porque a partida iminente do apóstolo era motivo para reunir a pequenina igreja, em uma ceia fraternal, ocasião em que fez seu último discurso, embora não fosse culto especial de Domingo nessa casa.”Augusto Neander, The History of the Christian Religion and Church, 1831, v. 1, p. 337

“Que nesse tempo o Domingo já fosse regularmente observado para realizar assembléias religiosas e os Agapae [‘Festas do Amor’, refeições sociais seguidas usualmente pela Ceia do Senhor, na igreja primitiva] (κλάσαι ἄρτον; ver Atos dos Apóstolos 2:42), não pode, de fato, ser afirmado com certeza histórica, uma vez que possivelmente a observância do Agapae em nossa passagem pode ter apenas ocorrido acidentalmente no primeiro dia da semana (porque Paulo pretendia partir no dia seguinte) e, como em 1 Coríntios 16:2 e Apocalipse 1:10 não necessariamente se distingue esse dia como separado para serviços religiosos. [...] Por muito tempo a observância do Sábado juntamente com ele [o Domingo] não foi abandonada pelos cristãos judeus e até por outros [...] A observância do Domingo não foi universalmente introduzida por lei até 321 d.C. por Constantino.”

 (Meyer’s NT Commentary, p. 384 e 385)

Para os comentaristas Batistas Conybeare e Howson, “era o anoitecer que sucedia o sábado judaico. No domingo de manhã o navio deveria partir... Ele [Paulo] continuou sua solitária viagem naquele domingo, depois do meio-dia, na primavera, entre os carvalhais e córregos de Ida.” (Life and Epistles of the Apostle Paul, p. 629)

Para Archibald Thomas Robertson, “com toda a probabilidade se reuniram em nosso sábado à noite – o início do primeiro dia ao pôr-do-Sol.” (Word Pictures, v.. 3, p. 339)

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O reformador protestante Calvino afirma: “É ponto pacífico que Paulo esperara pelo sábado porque no dia anterior à sua partida podia muito mais facilmente encontrar reunidos todos os discípulos num mesmo lugar. Digno de nota é o fervor de todos eles, não se sentindo incomodados em que Paulo lhes discursasse até à meia-noite, embora necessitasse ele seguir viagem; tampouco se tratava de uma ocasião especial para serem instruídos. Pois não tinha o apóstolo outro motivo para alongar o seu discurso, a não ser unicamente o profundo desejo e atenção dos seus ouvintes.” (Commentary upon the Acts of the Apostles, v. 2, p. 235)

Horácio B. Hackett, professor de Hebraico e Literatura Clássica no Seminário Teológico de Rochester, diz em seu comentário: “Os judeus contavam o dia da tarde para a manhã, e sobre esta base a noite do primeiro dia da semana seria nosso sábado à noite. Se Lucas aqui contava assim, como supõem muitos comentaristas, o apóstolo então aguardara o término do sábado judaico, e realizara sua última reunião religiosa com os irmãos em Trôade ... na noite de sábado, e em consequência, recomeçara a viagem na manhã de domingo.” (Commentary on Acts, ed. 1662, p. 221 e 222)

“Paulo e seus amigos não podiam, como bons judeus, iniciar uma viagem no sábado; fizeram-na tão cedo quanto foi possível, a saber, na madrugada do ‘primeiro dia’, tendo o sábado expirado ao pôr-do-sol.”

The Moffatt New Testament Commentary, Acts, p. 187

T. Stockes nos diz: “A reunião foi realizada no que poderíamos chamar a noite de sábado; pois nós devemos lembrar de que o primeiro dia judeu tinha início ao pôr-do-Sol do sábado.” (The Expositor’s Bible, Atos, v. 2, p. 393) 

Robertson Nicoll nos diz sobre o assunto: “Vieram a Trôade, e lá permaneceram por uma semana, forçados sem dúvida pelas exigências do navio e seu carregamento. No primeiro dia da semana, S. Paulo reuniu a igreja para culto. A reunião realizou-se no que poderíamos chamar de sábado à noite; pois nós devemos lembrar de que o primeiro dia judaico começa ao pôr-do-Sol do sábado.” (The Expositor’s Bible, ed. 1903, sobre Atos dos Apóstolos 20:7)

“Porém, os fatos não oferecem base para afirmações extravagantes; o autor do Livro de Atos não nos diz, em momento algum, que era Dia do Senhor e, muito menos, um dia de descanso. Lucas se refere ao dia em questão apenas como ‘primeiro dia da semana’. [...] Não podemos ir além disso e devemos resistir à qualquer tentação de usar o relato de Lucas como um paradigma para a observância do ‘primeiro dia’. Um número excessivo de aspectos desse relato depende da natureza extraordinária da ocasião em questão, como a última noite de Paulo com essa determinada igreja.”

M. Max B. Turner, In: D. A. Carson, Org., Do Shabbath para o Dia do  Senhor, p. 137

Paulo passou, portanto, caminhando vários quilômetros no Domingo, de Trôade a Assis. Mesmo que, sem sombra alguma de dúvida, tal reunião tivesse ocorrido no dia de Domingo, e o partir do pão fosse mesmo a celebração da Santa Ceia, ainda assim isso não constituiria uma prova de que o dia de guarda foi mudado do Sábado para o Domingo e que deveríamos guardar esse dia.

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