Por que Olavo de Carvalho não é evangélico?

Encontro uma lucidez nos escritos de Olavo de Carvalho, quando o mesmo trata sobre Política e Economia, que não percebo quando ele se atreve a tocar em temas da Teologia. Em um texto onde desafia "mil teólogos evangélicos" a refutá-lo, ele inicia afirmando que não é "autoridade nenhuma em matéria de Teologia" (o que logo se percebe). Aproveito para destacar alguns pontos de sua argumentação.

1) Carvalho justifica sua ignorância afirmando que apesar de não ser fluente, compreende bem o grego clássico para pesquisar e chegar a algumas conclusões teológicas. Primeiro problema: o Novo Testamento não foi escrito em grego clássico, e sim, em grego koiné.

2) Carvalho afirma que "em parte nenhuma do Evangelho Nosso Senhor diz que ler a Bíblia ou mesmo acreditar nela vai nos salvar." Pelo contrário, Jesus afirmou explicitamente que a salvação é encontrada nas Escrituras Sagradas, que dEle dão testemunho (João 5:39-48, Lucas 24:44-48). Em uma frase de desconhecimento surpreendente, Olavo afirma: "Não há ali sequer uma frase, um trechinho, uma palavra, em que Ele nos recomende a leitura do grande livro." Mas Jesus citou as Escrituras do Antigo Testamento centenas e centenas de vezes ao longo dos quatro Evangelhos, e mesmo criticou as autoridades judaicas por colocarem a sua tradição acima das Escrituras (Mateus 15:1-7), o que é exatamente o que a teologia católica romana de Olavo faz.

3) Olavo afirma que "quando batizamos um bebê, não estamos apenas rememorando o que fez João Batista, mas repetindo com atual vigor e efeito o que ele fez nos tempos bíblicos: integrar uma nova alma humana no Corpo Místico de Cristo." Nem João Batista batizava bebês, nem o seu batismo integrava alguém à Igreja. O batismo de João Batista (que não é o mesmo que o batismo cristão) era um batismo de arrependimento (Mateus 3:1-7), que servia para manifestar fé naquele que havia de vir, Jesus (Atos 19:4).

4) Olavo, referindo-se à instituição da Ceia do Senhor, afirma: "Lutero, Calvino e seus seguidores reduziram esse ato a um simples 'memorial', esvaziando-o da sua eficácia ritual no presente e negando a transformação real das duas substâncias." Grande erro histórico. Lutero e Calvino criam que havia uma presença espiritual de Cristo nos elementos da ceia (pão e vinho). Quem argumentou sobre a instituição da ceia como ato memorial foi Zwínglio. Como grande parte da argumentação de Olavo refere-se à crença católica na transubstanciação, recomendo meu artigo "POR QUE NÃO CELEBRO O CORPUS CHRISTI?", onde trato mais detalhadamente do assunto. 

Só posso apontar uma causa por trás da argumentação de Olavo e da sua rejeição da fé evangélica: "Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus." (Mateus 22:29)

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