Testo de Estudo

Apocalipse 17:1:

1 E VEIO um dos sete anjos que tinham as sete taças, e falou comigo, dizendo-me: Vem, mostrar-te-ei a condenação da grande prostituta que está assentada sobre muitas águas;

 

INTRODUÇÃO

Os capítulos 17 e 18 de Apocalipse conduzem-nos às narrativas dos últimos acontecimentos que envolvem a revelação. Eles ocupam-se da “Grande Meretriz”. A presente lição não pretende ser exaustiva e esgotar o assunto, mas se deter em pontos relevantes. Por hora, iremos nos ocupar com o capítulo 17, no qual se encontra a identidade da grande meretriz, sua relação com a besta, e a meretriz como objeto de ódio e destruição. 

 

A IDENTIDADE DA GRANDE MERETRIZ (vs 1-6,15,18).

A identidade da Grande Meretriz depende de alguns pontos do texto:

O simbolismo da mulher: É comum, na literatura do Antigo Testamento, os profetas usarem a mulher prostituta (ou adúltera) como símbolo de religião e idolatria. Jeremias, por exemplo, usa o termo referindo-se a Jerusalém; Oséias chega até mesmo a se casar com uma mulher adúltera para tipificar o relacionamento entre Deus e seu povo, Israel. O termo também é aplicado às cidades de Tiro (Isaías 23:15-17), Nínive (Na 3:4) e Jerusalém (Isaías 1:21; Jeremias 2:20; Ezequiel 16:15). 

Embora essa seja uma linguagem com a qual os leitores originais de João estavam familiarizados, por sempre remeter à infidelidade, o mais correto seria não restringir esse simbolismo à “prostituição espiritual” da Igreja ou do povo de Deus em geral. A ideia não é de infidelidade espiritual, mas de deturpação de todos os valores para obter ganho comercial.  

Por outro lado, pode-se ver também no simbolismo da mulher um contraste entre a Igreja verdadeira e a falsa; a adoração verdadeira e o culto idólatra. Temos o contraste entre a noiva e a meretriz, a cidade santa e a grande Babilônia. A mulher descrita é o sistema eclesiástico de Satanás.  Ela é caracterizada como a responsável por seduzir as nações, oferecendo o vinho de sua prostituição. E apresenta-se ostentando luxúria, riquezas e um cálice cheio de abominações. Sua riqueza e seu luxo podem ser verificados pelo fato de que, no mundo antigo, somente os ricos podiam usar roupas de púrpura e escarlata por causa de seu alto custo. Suas roupas irradiavam esplendor e eram de custo fabuloso.  Assim é a religião do materialismo, do lucro, da ganância, do poder e cujos valores encontram-se no ouro que possa ser adquirido nesta vida. Tem-se um quadro perfeito do mundo à parte de Cristo, “blasonando”  sobre sua riqueza, alimentação, banquetes, carros, equipamentos, vestuário e toda a beleza e glória.  Ela tem a oferecer tudo aquilo que atrai o homem natural, desde as coisas mais execráveis às que vêm em roupagem “religiosa” e de “boa moral”. 

A meretriz tem em suas mãos um cálice cheio de “abominações” (v.4), e é digno de nota que o cálice é de ouro, mas seu conteúdo não; ele carrega aquilo que é detestável, repulsivo. A mulher, por um lado, é atraente por seu luxo e altivez; contudo, por outro, é doentia e nojenta, um esgoto de imundície. Essa é a espécie de ideia que o apóstolo João quer transmitir : a imagem de uma mulher imoral, atraente, mas sedutora e nociva. Isso é encontrado em Provérbios 7:7-27; ali, o cenário apresenta um jovem “tolo”, atraído, que segue ao encontro da própria morte. E não é diferente em relação à Grande Meretriz descrita no Apocalipse. Seu cálice, por fora, atrai pela beleza e pelo valor do ouro. Porém, em seu interior, envenena pelo que carrega no conteúdo. Ser seduzido por ela é tomar de seu veneno mortal. 

Outra faceta da mulher é a crueldade com que trata as testemunhas de Jesus (v 6). Além de sua devassidão e luxúria, ainda usou da perseguição contra os seguidores de Jesus. O que fica claro é o fato de sua oposição a Deus: se, de um lado, a meretriz procura disseminar luxúria, engano e falso ensino de outro, ela faz oposição direta a Cristo por meio da violência. No entanto, mostra-se atrativa aos olhos de quem cede à sua sedução, mesmo se revelando cruel com os que não se deixam enganar. Ela estava “embriagada” com o sangue deles, e isso demostra sua sagacidade e ódio, bem como compulsão, visto que a “embriaguez” seria sua sede de derramar ainda mais sangue. Mostra-se “insaciável”, e diante da visão, João fica espantado; não que ele tivesse admiração pela meretriz, mas aquela imagem causou-lhe espanto, perplexidade e pavor, tão horrenda era a cena da mulher, tanto em sua aparência quanto em suas práticas abomináveis e cruéis. 

 Deve-se observar também que a influência da meretriz estende-se a todas as nações, povos e línguas (v. 15) e tem domínio sobre os reis da Terra (v. 17). O que está em foco é o alcance universal de seu governo, pois ela domina sobre “povos, nações e línguas”; isso inclui mais do que território geográfico, engloba todos os setores da sociedade. Esta “mulher” pode ser vista na política, na escola, na cultura, na religião, na família e nas organizações em geral. E de fato exerce seu domínio universal. A grande meretriz domina e ocupa com seus vícios uma multidão de pessoas, de todas as nações da Terra. E tem sucesso em todo o mundo.  

 

SUA RELAÇÃO COM A BESTA ( vs 3 e 16)

A maneira como a mulher é vista mostra que existe uma relação entre ela e a besta; essa besta é a primeira (Apocalipse 13:1-10). Não se deve confundir os personagens! A besta é uma; e a meretriz, outra. Elas são diferentes entre si, mas estão juntas por um tempo. Há uma relação próxima entre as duas; não são dois lados de uma mesma moeda. Assim, quem for a besta não pode ser a mulher, e vice-versa. O fato de a meretriz estar montada sobre a besta indica que, ao mesmo tempo em que exerce controle sobre esta, ela também depende dela. Para melhor entendimento, vejamos os seguintes pontos: 

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Período de atuação: É ponto de discurção o período em que a mulher entrará em cena na História, mas o texto não deixa dúvida quanto ao fato de que será no mesmo período em que a besta atuará. Existem, pelo menos, quatro posições teológicas sobre isso: 

1)Afirma-se que a mulher sempre existiu e atuou. Os que defendem tal posição veem na mulher apenas um símbolo de um sistema sempre oposto a Deus, que teve por objetivo afastar o homem da adoração verdadeira e conduzi-lo a prestar culto ao diabo, seja pela sedução, seja pela perseguição. Ela foi Nínive, Babilônia,Tiro e Sidom, Egito e o Império Romano nos dias de João, e assim sucessivamente. No século I, a Babilônia era Roma. Duas gerações atrás, era Berlim. Hoje, talvez, seja Las Vegas, ou até mesmo, um campus universitário. A babilônia pode ser encontrada em todos os lugares, ao longo da História; é o centro da sedução anticristã de qualquer época.  Se esse for o caso, a primeira besta também sempre existiu e valeu-se da meretriz como meio de sedução para atingir seu intento, pois as duas, em algum momento, atuam juntas. 

2)Afirma-se, em outra leitura, que ela é “um mistério” ainda a ser manifesto. Embora a interpretação não negue que sempre o mundo fez oposição a Deus, vê na grande meretriz um evento mais escatológico que histórico. Assim, sua identidade será revelada, e todos a conhecerão no tempo certo, tempo esse que ainda não chegou. Dessa forma, a meretriz é um sistema que representa uma fase do desenvolvimento da cristandade e, até agora, não foi revelada. Por isso, é chamada de mistério  

3)Identifica-se a mulher com a cidade de Jerusalém. Os que defendem essa interpretação baseiam-se em vários argumentos. Com base em Apocalipse 11:7-8, a “grande cidade” é identificada por ter sido o local onde o Senhor foi crucificado, na cidade de Jerusalém (Lucas 18:31). João tem como pano de fundo Jeremias 3 Deus lida com a infidelidade de Israel, identificando como ums “prostituta”(v.1-2);  a Terra foi “contaminada” por causa de sua prostituição (v.9). Em Jeremias 33, Israel tem “a testa de uma prostituta”. Mesmo que, nos dias de João, Roma tenha perseguido os cristãos, Jerusalém é apontada como a principal perseguidora, e Roma não foi responsável pela matança dos profetas do Antigo Testamento, como o foi Jerusalém, além do fato de que os judeus foram apontados claramente como responsáveis pela morte de Jesus. A veste da prostituta reflete as cores sacerdotais judias. A inscrição na testa da prostituta dá a imagem inversa da incrição santa no sacerdote. Um contraste literário existe entre a prostituta embriagada e a noiva pura por vir. O Apocalipse descreve os nomes pagãos em outras passagens para referir-se a Jerusalém. Em outras palavras, no lugar de se portar como esposa de Deus, Jerusalém tornou-se um de seus inimigos – como Sodoma, Egito e Babilônia.  Mas tal interpretação parece não ser muito sólida e deve ser tomada com muito cuidado. 

4)Vê-se a meretriz como Roma, com base em Apocalipse 17:7-18. João estava vendo a Roma de seus dias, e seus leitores provavelmente tenham tido essa interpretação; no entanto, é preciso cautela. Com o auxílio de uma antiga moeda romana, que retrata a deusa Roma assentada sobre sete colinas e as citações de historiógrafos romanos (17.9), os estudiosos interpretam Babilônia como uma referência a Roma. Identificar, porém, Babilônia com Roma como a grande prostituta é por si só restrito e uma delimitação do tempo.  Mesmo sendo uma interpretação plausível, encontra-se muita dificuldade em realizar a contagem dos imperadores romanos até os dias de João. Ao todo, os imperadores foram: 1 - Júlio César (49-44 a.C.), 2 - Augusto (27 a.C.-14 d.C.), 3 -ibério(14-37), 4 - Gaio Calígula (37-41), 5 - Cláudio (41-54), 6 - Nero (54-68), 7 - Galba (junho 68-janeiro 69), 8 - Oto (janeiro-abril 69), 9 - Vitélio (abril-dezembro 69) 10 - Vespasiano (69-79), 11 - Tito (79-81), 12 - Domiciano (81-96). Segundo Apocalipse 17:10, nos dias de João, cinco haviam caído; o sexto estava reinando e viria o sétimo, que duraria pouco. Deste, sairia um oitavo (e último) governo. Sobre a dificuldade dessa interpretação, podemos lançar a seguinte questão: Onde começamos a contagem e onde terminamos? Começamos com Júlio César, Augusto ou Galba? Galba, Oto e Vitélio são excluídos em decorrência de seus breves reinados? Omitimos o nome de Júlio César uma vez que não toma parte na história neotestamentária? Se adotarmos a última data para o Apocalipse, é Domiciano o sexto, o sétimo ou o oitavo imperador? Devemos partir de Domiciano e começar a contagem regressiva? Os estudiosos têm tentado responder a essas questões, mas os cálculos numerosos que coletivamente apresentam tornam impossível chegar a uma sombra de unanimidade. João escreve “cinco caíram”; mas, evidentemente, ele não está pensando em reis que morreram. Antes, em impérios que chegaram ao fim e pereceram. 

 

Seja qual a for a interpretação adotada, sempre haverá dificuldades em harmonizar todos os pormenores. Em sua maioria, os cristãos protestantes afirmam que nesta visão está a Roma Papal. Embora tenha coerência devido ao seu histórico de perseguição e morte a cristãos, durante séculos, bem como suas doutrinas que carecem de apoio bíblico, como o purgatório, a intercessão dos santos, a virgindade perpétua e a impecabilidade de Maria, mãe de Jesus, a infalibilidade papal e a transubstanciação, por exemplo. Mesmo assim, não há como afirmar que Roma Papal está em foco; seria essa apenas mais uma interpretação.

Para que o leitor possa lidar melhor com esse impasse, sugere-se que a mulher seja interpretada do modo explanado a seguir. A grande meretriz correspondia, no primeiro século, a Roma, mas ela também é escatológica, pois aponta para o tempo da consumação de todas as coisas, e é atemporal (pode ser passado, presente e futuro). Como Roma, em sua forma antiga, já é um fato “passado”, o que resta é a sua plena atuação neste mundo, mas isso dependerá, de certa forma, de quem é e quando atua a besta, sobre a qual a grande prostituta cavalga. Independentemente disso, estamos diante da falsa religião, com seu falso culto e seu falso deus, a “Igreja” falsificada de Satanás que sempre se infiltrou no mundo com engano e mentira. Os profetas e os cristãos enfrentaram o panteão de deuses com sua corte de adoradores e profetas falsos, com uma forma de culto idólatra e diabólico. Ele seduz, engana e persegue; assim também acontece com a “Grande Meretriz”: é o mesmo sistema a serviço do mesmo “deus”; mudam a roupagem e os tempos, mas, não, a natureza.  

 

OBJETO DE ÓDIO E DESTRUIÇÃO (v. 16) 

Na visão de João, de forma repentina o cenário muda, e os “dez chifres” (reis que sustentam a besta em seu poder) juntamente da besta voltar-se-ão contra a meretriz e a destruirão por completo. A meretriz será “odiada”, “devastada”, “devorada” e “lançada ao fogo”. A cena é dramática! A linguagem de João indica que, a antes orgulhosa cidade, fica totalmente destruída, em ruínas. Eles irão deixá-la despojada, isto é, despirão de seus adornos bonitos. Eles comerão suas carnes, figura tirada da ferocidade de animais selvagens, simbolizando, na linguagem dos profetas, a destruição dos homens entre si.   

 

CONCLUSÃO

Mesmo que não seja possível identificar na História a Grande Meretriz, suas características permitem identificá-la, independentemente, do contexto histórico. Suas riquezas seduzem; seus ensinos enganam. Suas práticas destroem, e sua aparência esconde sua real intenção. Ao povo de Deus, resta buscar bastante o conhecimento da Palavra para não ser enganado e venha a beber do cálice da “Babilônia”, pois onde quer que ela tenha alcance, irá oferecer o que possui de pior em termos de imundície, degradação, imoralidade e falsa doutrina, mesmo que isso venha em roupagem disfarçada de saudável e religiosa. 

 

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