Texto de Estudo

Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio; Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado.

INTRODUÇÃO

          O estudo de hoje tem como objetivo oferecer um breve panorama do Evangelho Segundo Lucas. O alvo de nossa análise será conhecer um pouco sobre a vida do autor, o objetivo de sua carta, o público destinatário, o cerne da mensagem, entre outros temas pertinentes à introdução do tema estudado. O Evangelho de Lucas é o mais extenso dos quatro; é rico em detalhes, principalmente históricos. Por isso, esgotar todos os assuntos do livro não é o intento desta lição. Lucas é o único Evangelho que tem uma continuação, apresentada no livro de Atos, no qual o autor dá continuidade a seu projeto literário.

 

LUCAS, O MÉDICO

          A Bíblia não apresenta muitos detalhes sobre a vida de Lucas, mas os poucos mencionados e a forma como o terceiro Evangelho foi escrito descrevem um personagem ímpar na divulgação do ministério de Jesus, contando tanto do tempo que o Mestre esteve na Terra quanto da continuidade do Seu ministério após Sua ascensão.

          A maioria dos estudiosos concorda que Lucas era um gentio, restando apenas a dúvida se ele era um gentio puro ou um semita. Há quem pense que era um helenista, ou seja, um judeu cristão de língua e cultura grega. Quanto à profissão de Lucas, segundo apontado por Paulo, é médico (Colossenses 4:14). Segundo as informações citadas por Lucas, por um acurado estudo do terceiro Evangelho e por evidências históricas exteriores, podemos destacar algumas qualidades da vida do autor que merecem atenção. Vejamos:

          Um homem compromissado com a verdade. Na introdução do livro, Lucas diz que os fatos narrados são fruto de uma “acurada investigação” (1:3). Devemos entender a expressão no sentido de “seguir a pista”, ou seja, uma investigação profunda dos detalhes, compromissada com a verdade. Ou seja, as informações colhidas e analisadas por ele são confiáveis, pois ele seguiu os eventos de maneira “acurada”. E afirma que suas informações são boas, pois sabe o que fala. Ele seguiu a pista da história desde o início, “desde sua origem”. Lucas informou-se de forma minuciosa antes de transmitir ao público o relato do Evangelho. A sua riqueza de detalhes caracteriza o autor como um exímio teólogo e historiador. Acima de tudo, o evangelista estava sob a direção do Espírito Santo, como os demais que, antes dele, preocuparam-se com o Evangelho de Jesus Cristo. (1:1,2)

          Seu exemplo exorta-nos a sermos comprometidos com a verdade do Evangelho; mas não de forma superficial, com sermões descompromissados ao estudo profundo da Palavra, ou como evangelistas que pregam um Evangelho que não conhecem.

          Fiel companheiro. Segundo os relatos bíblicos, Lucas foi companheiro de Paulo durante boa parte do ministério do apóstolo. Sua lealdade demonstra-se pelo fato de que não só esteve com Paulo nos momentos de alegria, mas, ao que parece, permaneceu a seu lado até o fim. Era um amigo amável (Colossenses 4:14), um cooperador (Filemom 24). Enquanto muitos abandonaram Paulo, Lucas permaneceu com o amigo, mesmo quando este esteve preso, prestes a sofrer martírio (2 Timóteo 4:11). Amigos assim são difíceis de encontrar. Lucas demonstrou o exemplo de amizade que todos nós gostaríamos de ter, e um exemplo do amigo que devemos ser.

         

A DATA E O DESTINATÁRIO

          O Evangelho de Lucas pode ter sido escrito em Cesareia, enquanto Paulo esteve ali, aprisionado. Certamente, deve ter sido o período em que Lucas coletou a maior parte do seu material. Também é possível que tenha escrito o seu Evangelho em algum outro lugar - na Grécia ou na Ásia Menor, depois de Paulo ter sido libertado de seu primeiro aprisionamento, em Roma. Não é possível definir com perfeição a data em que o terceiro Evangelho fora escrito, mas a melhor estimativa é por volta de 63 d.C.

          O destinatário da obra é Teófilo. Esse nome significa “amigo de Deus”. Considerando que, em Lucas 1:3 Teófilo é considerado e interpelado como “excelentíssimo Teófilo”, pressupõe-se que tenha sido um homem renomado, talvez até Governador romano, pois o título “excelentíssimo” era usado para senadores e cavaleiros (clarissimus), como os procuradores romanos Félix (Atos dos Apóstolos 23:26; 24) e Festo (Atos dos Apóstolos 26:25). Essa dedicatória, evidentemente, não exclui a possibilidade de que os livros visassem um grande círculo de leitores, o que, com certeza, é o caso do terceiro Evangelho.

          A visão histórica abrangente, dada em Lucas 3:1 bem como a característica de todo o escrito demonstram que o autor escreveu a um amplo círculo de leitores de origem grega, cujo representante ele considerava ser Teófilo. Além do mais, a dedicatória não significava mera questão de honra. Até o surgimento da imprensa, a edição de um livro era muito custosa. Por isso, os autores costumavam dedicar suas obras a uma personalidade abastada que, caso aceitasse a dedicatória, era considerada, por assim dizer, “patronus libri”, padrinho do escrito. Esse, por sua vez, encarregava-se de abrir caminho, em termos de público, para a nova publicação. Para isso, criava oportunidades para que o autor apresentasse textos perante um círculo seleto. E também encomendava, por sua conta, as primeiras cópias.

         

PROPÓSITOS DA OBRA

          Primordialmente, antes de qualquer detalhamento teológico, sabemos que o propósito do Evangelho segundo Lucas foi traçado pela soberania de Deus, através da ação do Espírito Santo, que usou sabedoria, conhecimento e qualidades do autor para registrar a história do nascimento, da vida, da morte e da ressureição do Salvador do mundo: Jesus Cristo.

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          Como vimos anteriormente, o destinatário é Teófilo. Mas estaria o evangelista tendo como alvo apenas seu estimado amigo? Certamente que não, pois um dos propósitos da obra foi fortalecer a fé dos crentes, especialmente daqueles que tinham sido, ou estavam sendo, congregados do mundo romano de fala grega, os conversos do paganismo. Orígenes afirmava que o Evangelho de Lucas foi escrito “por amor aos conversos gentílicos”. Lucas teria considerado Teófilo como representante desse grande grupo de contemporâneos que já havia sido entregue a Cristo, ou que estava pensando seriamente em fazê-lo. Investigadores honestos e cristãos novos estavam incluídos em sua esfera de ação.

          Uma das marcas desse Evangelho é que o autor apresenta Jesus como o “Filho do Homem”, o ser humano ideal. Como os gregos, há muito, buscavam o “homem perfeito”, Lucas desenvolveu sua obra para pôr fim a tal busca. Todavia, o autor não se preocupou em apenas tratar da natureza humana de Jesus, mas apresentou-O como o Messias que trouxe o Reino de Deus (12:35-48; 17:22-37; 21:25-26) a fim de mostrar à humanidade a salvação provinda do Filho de Deus. Enfim, apresenta o Salvador como o Homem Perfeito que veio salvar a todos, judeus e gentios.

                   

PARTICULARIDADES DO EVANGELHO LUCANO

          Somente Lucas escreveu sobre o nascimento e a meninice de Jesus Cristo e de seu precursor, João Batista, lançando um grande e significativo esplendor de glória sobre a infância de todos nós. O livro de Lucas é notável pelos cânticos registrados: O Cântico de Maria (1:46-55); O Cântico de Zacarias (1:68-79); O Glória in excelsis, dos anjos (2:14) e O Cântico de Simeão (2:29-32).

          É Lucas que marca as datas mais plenamente (Conf. 1:5,26,36; 2:1,2,21,22,36,37,42; 3:1,2.); ele dá mais atenção à glória do sexo feminino, esboçando o grupo de mulheres que se destacaram no ministério de Jesus: Isabel, Maria (sua mãe), a idosa Ana, a viúva de Naim, a viúva que ofertou tudo que possuía, as irmãs de Betânia, a pecadora penitente, a mulher curvada por Satanás, as santas que seguiam Jesus de aldeia em aldeia, as “filhas de Jerusalém” que, chorando, acompanharam-nO até a cruz.

          Lucas fala mais nas orações de Cristo do que Mateus, Marcos ou João (Conf. 3:21; 5:16; 6:12; 9:18,29; 11:1). É o único a registrar as seguintes parábolas: Os dois devedores (7:41-43); O bom samaritano (10:25-37); O amigo importuno (11:5-8); O rico insensato (12:116-21); Os servos vigilantes (12:35-40); O mordomo (12:42-48); A figueira estéril (13:6-9); A grande ceia (14:16-224); A construção de uma torre (14:28-33); A moeda perdida (15:8-10), 11); O filho perdido (15:11-32); O administrador infiel (16:1.13); O rico e Lázaro (16.19-31, 14) O senhor e seu servo (17:7-10); A viúva importuna (18:1-8); O fariseu e o publicano (18;10-14) e As dez minas (19:12-27).

          Lucas é o Evangelho do lar. É esse livro que nos dá um olhar momentâneo para a vida no lar, em Nazaré - da cena na casa de Simeão; da hospitalidade de Maria e de Marta; da refeição com os dois discípulos, em Emaús; da parábola do amigo importuno à meia-noite; da mulher varrendo a casa, à procura da dracma perdida; e do pródigo que volta ao lar paterno. 

APLICAÇÃO DO ESTUDO

          Embora a lição estudada aborde mais informação do que aplicação, algumas lições são importantes sobre o tema estudado.

Deus dá a nós sabedoria e talentos para que usemos para Seu Reino. Como vimos em nosso estudo, Lucas era alguém muito instruído. Era médico e tinha contato com pessoas influentes, como demonstra sua amizade com Teófilo. Muitos estudiosos qualificam-no como um grande historiador por causa da precisão de datas e localização geográfica na descrição da vida de Jesus. Mas o que nos chama atenção é que o fato de ele ter usado tudo isso a favor do Reino de Deus. Com sabedoria, conhecimento e influência, empenhou-se em empregar tudo isso à voz da evangelização. Embora ainda exista alguma resistência em aceitação por parte dos cristãos, principalmente dos Batistas do Sétimo Dia, Deus chama e usa quem Ele quiser, e isso inclui médicos, advogados, teólogos, professores mestres, e outros mais.

          As pessoas ainda buscam o “homem perfeito”. Não só na era gregoriana, o ser humano buscava o homem perfeito. E, atualmente, ainda é uma vertente em nossos dias. O homem perfeito transfigura-se, na atualidade, por imagens de heróis, sejam fictícios, sejam reais, que se levantam para salvar a humanidade. Contudo, por fim, na realidade ou nas telas dos cinemas, todos têm fraquezas e são incapazes de salvar a raça humana. Portanto, o Evangelho de Lucas é tão atual quanto nos dias de sua publicação, pois apresenta o único homem perfeito - Jesus, o “Filho do Homem”.

          Evangelizando os “Teófilos”. O empenho de Lucas em descrever, de forma precisa, cada fato narrado em seu Evangelho é testificar ao amigo Teófilo a certeza da salvação em Cristo Jesus. Teófilo já tinha ouvido falar do que acontecera naqueles últimos dias, mas Lucas vai além para que o amigo “tivesse plena certeza das verdades em que fora instruído” (1:4). Isso é preocupar-se com a salvação do “próximo”. Nós, cristãos, somos chamados a ter a mesma atitude de Lucas para que, com todo o empenho, possamos instruir à salvação os “Teófilos” que Deus coloca em nosso caminho.

 

CONCLUSÃO

          Ao estudar a introdução ao Evangelho de Lucas, podemos perceber que ele é, em primeiro lugar, pastoral, pois trata de um evangelista preocupado, instruindo o amigo sobre a salvação em Jesus. Mais do que instruir Teófilo, a obra instruiu e, com certeza, levou à conversão de muitos gentios.

          Em segundo lugar, é teológico, pois trata, em sua essência, de verdades divinas manifestadas ao homem, em especial a verdade da revelação do amor de Deus, manifesto por meio de Seu Filho.

          Em terceiro lugar, o Evangelho não deixa de ser histórico. Talvez um dos mais ricos documentos históricos que comprovam, com exatidão de datas e locais, a veracidade do ministério de Jesus nesta Terra.

 

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