Ao contrário da visão popular entre alguns cristãos de que as 7 igrejas de Apocalipse 2 e 3  (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia; cap. 2-3) representam 7 eras da história cristã, do século I até a segunda vinda de Cristo, David Chilton (em sua obra The Days of Vengeance, 1990, p. 86-89) aponta que, além de serem igrejas reais da Ásia Menor da época de João, suas descrições recapitulam, em 7 fases, a história do povo de Deus no Antigo Testamento (Israel), de Gênesis ao século I.

Éfeso (Criação): Cristo se apresenta como aquele que anda entre os candeeiros (2:1), assim como Deus andava no jardim (Gênesis 3:8). O "anjo" de Éfeso é elogiado por proteger adequadamente a Igreja contra seus inimigos, como Adão tinha recebido a ordem de guardar o jardim e sua esposa de seu Inimigo (Gênesis 2:15). Mas o anjo, assim como Adão, "caiu", tendo deixado seu primeiro amor. Cristo ameaça vir a ele em julgamento e remover o seu candelabro de seu lugar, assim como Ele havia banido Adão e Eva de seu lugar, o jardim (Gênesis 3:24). Contudo, àquele que vencer, o acesso ao paraíso e à árvore da vida será restabelecido (2:7).

Esmirna (Era Patriarcal): Cristo se apresenta como aquele que esteve morto, mas voltou a viver (2:8), o que relembra as histórias de Isaque (Hebreus 11:17-19) e José (Gênesis 46:29-30), recobrados simbolicamente da morte, bem como a libertação de Israel da casa da servidão no Egito. A Igreja de Esmirna é tanto pobre (materialmente) quanto rica (espiritualmente), o que relembra a experiência dos Patriarcas que peregrinaram em terra alheia como herdeiros da promessa (Hebreus 11:9). Falsos judeus estão perseguindo os herdeiros da promessa (v. 9), assim como Ismael perseguiu a Isaque (Gálatas 4:22-31). O perigo de prisão tem paralelo na vida de José (Gênesis 39:13-20). A vitória após uma tribulação de 10 dias relembra a proteção de Israel em meio às 10 pragas do Egito.

Pérgamo (Peregrinação de Israel): Os inimigos da igreja são descritos como "Balaão" e "Balaque", o falso profeta e o rei ímpio que se opuseram aos israelitas no deserto. Cristo ameaça fazer guerra contra os Balaamitas com a espada, assim como o "Anjo do Senhor" e o sacerdote Finéias o fizeram (Números 22:31 25:7-8). Ele promete compartilhar o "maná escondido" da Arca da Aliança (Hebreus 9:4), o alimento do povo judeu durante a peregrinação, e uma pedra branca com um "novo nome" inscrito nela, assim como o sumo-sacerdote utilizava pedras escritas com os nomes das 12 tribos de Israel (Êx 28:9-12).

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Tiatira (Monarquia): Jesus Se apresenta como "Filho de Deus", um título especial dentro da Aliança Davídica (2 Samuel 7:14 Salmos 2:7). Ele repreende a tolerância a "Jezabel", o nome da rainha idólatra do AT. Ela e aqueles que cometem adultério com ela (2 Reis 9:22) estão ameaçados de "tribulação", como os três anos e meio de tribulação que vieram sobre Israel nos dias de Jezabel (1 Reis 17:1); ela e sua descendência serão mortas (cf. 2 Reis 9:30-37). Aquele que vencer receberá "autoridade sobre as nações" e as "regerá com cetro de ferro", o que alude à promessa de domínio feita inicialmente a Davi, o Ungido de Deus (Salmos 2:9).

Sardes (Profetas): A referência aos "sete Espíritos" fala do testemunho dos profetas em meio à apostasia de Israel. A descrição da reputação da Igreja como "viva" quando ela está realmente "morta", as exortações para "acordar" e "fortalecer as coisas que restam", o reconhecimento de que há "algumas pessoas" que permaneceram fiéis, assim como a advertência de um juízo iminente, todas são uma reminiscência da linguagem profética sobre o remanescente em um tempo de apostasia, que aparece em Isaías, Jeremias, Ezequiel, Miquéias e Sofonias.

Filadélfia (Pós-Exílio): O imaginário da sinagoga, Templo e Jerusalém nessa carta reflete o retorno do Exílio babilônico sob Esdras e Neemias e a reconstrução da nação. Os cristãos de Filadélfia, como os judeus que retornaram, tinham "pouca força". A referência à "sinagoga de Satanás", que diz que eles são judeus, mas não são, retoma os conflitos relatados em Esdras 4 e Neemias 4 6 e 13. O aviso sobre a "hora da provação" (v. 10) para provar os que habitam sobre a terra relembra a tribulação sofrida sob Antíoco Epifânio (Daniel 8 e 11). Cristo promete ao vencedor que ele será "um pilar no Templo" e compartilhará as bênçãos da "Nova Jerusalém".

Laodicéia (século I): A Igreja "morna", que se gaba de sua riqueza e autossuficiência, reflete o Judaísmo farisaico do primeiro século (Lucas 18:9-14), que rejeitou ao seu próprio Messias. Ela está a ponto de ser vomitada, assim como o povo judeu foi "vomitado" de sua terra no ano 70 d.C. (a maldição de Levíticos 18:28; cf Lucas 21:24). O convite para cear com Cristo (v. 20) aponta para a celebração eucarística, instituída por Cristo na noite da traição. Aquele que vencer reinará com Cristo, a bênção trazida à Igreja pela Nova Aliança (Efésios 2:6 Apocalipse 1:6).

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