"A maioria das autoridades na igreja medieval não somente toleravam, mas encorajavam a abertura e desmembramento de corpos humanos para fins religiosos. [...]

Mondino di Liuzzi (c. 1275-1326) produziu o primeiro livro de anatomia conhecido baseado na dissecação humana, que permaneceu como texto básico da instrução médica universitária até o início do século 16. Inicialmente, a dissecação foi confinada a universidades italianas e escolas de médicos ou cirurgiões, muitas das quais a adotaram como exigência anual, e também a universidade francesa de Montpellier. No fim do século 15, porém, a prática se espalhou para faculdades de medicina no norte da Europa, e no século 16, era amplamente realizada em universidades e escolas médicas em áreas católicas e protestantes. [...]

Não conheço nenhum caso em que um anatomista foi perseguido por dissecar um cadáver humano, e nenhum caso em que a Igreja rejeitou um pedido por dispensação para dissecar. [...]

Na realidade, tanto da Vinci como Versálio (e Servet) nunca tiveram problemas por sua prática de dissecação humana, apesar da dificuldade na obtenção de corpos forçá-los a praticar a dissecação, muitas vezes, em cadáveres animais."


Fonte: Ronald L. Numbers (Org.). Terra Plana, Galileu na Prisão e Outros Mitos sobre Ciência e Religião. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020. p. 71, 73, 74, 77.

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