Em sua edição de dezembro de 2003, a Revista Superinteressante traz como matéria de capa o assunto “São Paulo Traiu Jesus? Sem Paulo de Tarso, o Cristianismo que você conhece não existiria. Agora surge a polêmica: ele é o herói que disseminou a fé em Cristo ou o vilão que deturpou as palavras de Cristo para sempre?Revista Superinteressante 2003/12 A reportagem baseia-se em teologias críticas do século XVII, segundo as quais o apóstolo Paulo, um dos principais personagens da história cristã primitiva e autor de vários livros do Novo Testamento, teria distorcido os ensinos originais do Cristianismo, ao tornar a circuncisão desnecessária aos gentios e, influenciado por ideias gregas sobre semideuses, elevar o “profeta” judeu Jesus a uma figura divina. Em oposição a tais ideias, podemos fazer diversos apontamentos.

A Igreja Primitiva Aceitou os Escritos de Paulo

Não há nenhuma evidência cristã primitiva de que os ensinos de Paulo tenham sido considerados opostos aos de Cristo e dos demais apóstolos. As epístolas de Paulo são citadas abundantemente pelos Pais da Igreja, como Justino Mártir, Irineu, Inácio de Antioquia, Clemente de Alexandria, Policarpo, Tertuliano, Hipólito, Orígenes e muitos outros. Isso nos demonstra que cedo ainda na história cristã seus livros foram reconhecidos como inspirados.

Os Apóstolos Reconheceram o Apostolado de Paulo

Pedro, Tiago e João, os principais líderes da Igreja primitiva, reconheceram como legítimo o apostolado de Paulo. Não vemos qualquer evidência de que considerassem Paulo um apóstata ou falsificador da mensagem do Evangelho que eles pregavam.

 Quanto aos que pareciam influentes — o que eram então não faz diferença para mim; Deus não julga pela aparência — tais homens influentes não me acrescentaram nada. Pelo contrário, reconheceram que a mim havia sido confiada a pregação do evangelho aos incircuncisos, assim como a Pedro, aos circuncisos. Pois Deus, que operou por meio de Pedro como apóstolo aos circuncisos, também operou por meu intermédio para com os gentios. Reconhecendo a graça que me fora concedida, Tiago, Pedro e João, tidos como colunas, estenderam a mão direita a mim e a Barnabé em sinal de comunhão. Eles concordaram em que devíamos nos dirigir aos gentios, e eles, aos circuncisos. Somente pediram que nos lembrássemos dos pobres, o que me esforcei por fazer.    

Gálatas 2:6-10

Pedro Reconheceu os Escritos de Paulo como Inspirados

O apóstolo Pedro reconheceu os escritos de Paulo como divinamente inspirados, ao mesmo nível que as Escrituras do Antigo Testamento.

 Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação, como também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu, com a sabedoria que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos. Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles.    

2 Pedro 3:15-16

O Ritual da Circuncisão e os Gentios

A decisão de que os gentios não necessitavam passar pelo ritual da circuncisão para ingressar na Igreja foi uma decisão tomada pelos apóstolos no Concílio de Jerusalém em 49 d.C. (Atos dos Apóstolos 15), e não uma invenção de Paulo. Ao lermos esse relato histórico nas Escrituras, percebemos que Pedro e os demais apóstolos defenderam as mesmas ideias de Paulo.

 Depois de muita discussão, Pedro levantou-se e dirigiu-se a eles: ‘Irmãos, vocês sabem que há muito tempo Deus me escolheu dentre vocês para que os gentios ouvissem de meus lábios a mensagem do evangelho e cressem. Deus, que conhece os corações, demonstrou que os aceitou, dando-lhes o Espírito Santo, como antes nos tinha concedido. Ele não fez distinção alguma entre nós e eles, visto que purificou os seus corações pela fé. Então, por que agora vocês estão querendo tentar a Deus, impondo sobre os discípulos um jugo que nem nós nem nossos antepassados conseguimos suportar? De modo nenhum! Cremos que somos salvos pela graça de nosso Senhor Jesus, assim como eles também’. Toda a assembleia ficou em silêncio, enquanto ouvia Barnabé e Paulo falando de todos os sinais e maravilhas que, por meio deles, Deus fizera entre os gentios.    

Atos dos Apóstolos 15:7-12

  Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos, com toda a igreja, eleger homens dentre eles e enviá-los com Paulo e Barnabé a Antioquia, a saber: Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens distintos entre os irmãos. E por intermédio deles escreveram o seguinte: Os apóstolos, e os anciãos e os irmãos, aos irmãos dentre os gentios que estão em Antioquia, e Síria e Cilícia, saúde. Porquanto ouvimos que alguns que saíram dentre nós vos perturbaram com palavras, e transtornaram as vossas almas, dizendo que deveis circuncidar-vos e guardar a lei, não lhes tendo nós dado mandamento, Pareceu-nos bem, reunidos concordemente, eleger alguns homens e enviá-los com os nossos amados Barnabé e Paulo, Homens que já expuseram as suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais por palavra vos anunciarão também as mesmas coisas. Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá.    

Atos dos Apóstolos 15:22-29

A Cristologia dos Evangelhos

Uma Cristologia (visão sobre a pessoa de Cristo) exaltada aparece nos próprios Evangelhos, em que Cristo Se apresenta tanto como Deus quanto como homem, assim como nos demais livros do Novo Testamento. A divindade de Cristo não foi uma invenção de Paulo, influenciado por ideias pagãs, mas um consenso entre os primeiros apóstolos.

 Mas, para que vocês saibam que o Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados’ — disse ao paralítico — ‘eu lhe digo: Levante-se, pegue a sua maca e vá para casa.’ Ele se levantou, pegou a maca e saiu à vista de todos. Estes ficaram atônitos e glorificaram a Deus, dizendo: ‘Nunca vimos nada igual!     [Somente Deus pode perdoar pecados]

Marcos 2:10-12

 Mas Jesus permaneceu em silêncio e nada respondeu. Outra vez o sumo sacerdote lhe perguntou: ‘Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?’ ‘Sou’, disse Jesus. ‘E vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu.    

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Marcos 14:61-62

 No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito.    

João 1:1-3

 Além disso, o Pai a ninguém julga, mas confiou todo julgamento ao Filho, para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, também não honra o Pai que o enviou.    

João 5:22-23

  Eu e o Pai somos um.    

João 10:30

 Respondeu Jesus: ‘Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou!’ Então eles apanharam pedras para apedrejá-lo, mas Jesus escondeu-se e saiu do templo.    

João 8:58-59

 ‘Eu Sou’ é o título de Deus no Antigo Testamento:

  E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós.    

Êxodo 3:14

  Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, àqueles que, mediante a justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, receberam conosco uma fé igualmente valiosa   

2 Pedro 1:1

Confira também o artigo Homem deificado ou Deus que se fez homem? A antiguidade da crença na divindade de Jesus.

O Martírio de Paulo

Paulo foi martirizado no reinado do imperador romano Nero, por causa de sua fé em Jesus (68 d.C.). Não parece razoável que um traidor ou falsificador da mensagem de Jesus estaria disposto a morrer por uma mensagem que ele próprio teria falsificado!

Conclusão

Michael Green nos conta que “dois jovens talentosos, Gilbert West e Lord Lyttleton, foram estudar na Universidade de Oxford. Na vida social eles eram amigos do Dr. Johnson e de Alexander Pope. Estavam decididos a atacar o fundamento da fé cristã, de maneira que Lyttleton lançou-se a provar que Saulo de Tarso jamais se converteu ao cristianismo, e West a demonstrar que Jesus jamais se levantou do túmulo. Algum tempo depois eles se encontraram para conversar sobre o que tinham descoberto. Ambos estavam um pouco embaraçados pois tinham chegado a conclusões semelhantes e perturbadoras. Em sua investigação, Lyttleton descobriu que Saulo de Tarso realmente se tornara um homem radicalmente novo devido à sua conversão ao cristianismo; e West descobriu que as provas apontavam de maneira inconfundível para o fato de que, sem dúvida, Jesus ressuscitou dos mortos. Ainda é possível encontrar o seu livro nas bibliotecas de grande porte. Tem o título de Observations on the History and Evidences of the Resurrection of Jesus Christ (Comentários sobre a História e as Provas da Ressurreição de Jesus Cristo), e foi publicado em 1747. Na primeira página do livro, que geralmente é uma página em branco, ele fez com que fosse impressa a notável citação extraída de Eclesiástico 11:7, que pode ser proveitosamente adotada por qualquer agnóstico da atualidade: ‘Não reproves a verdade antes de a teres examinado’.” (Michael Green, Man Alive, p. 55-56, 1968)

A mudança radical de vida que ocorreu com Paulo só pode ser explicada a partir de sua experiência real com o Cristo ressurreto.

  Pois sou o menor dos apóstolos e nem sequer mereço ser chamado apóstolo, porque persegui a igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi em vão; antes, trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu, mas a graça de Deus comigo.    

1 Coríntios 15:9-10

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